quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um carteiro para 666 correspondências

14.06.2011| 01:30


São 800 mil cartas distribuídas por dia no Ceará e apenas 1.200 profissionais dando conta dessa demanda. Sindicato da categoria denuncia sobrecarga, enquanto empresa diz que concurso vai melhorar cenário

O extrato do cartão de crédito vence sempre no dia 5. Neste mês, contudo, a correspondência só chegou às mãos de Maria do Rosário, 36, no dia 7. Juros que constarão na próxima fatura. E são recorrentes no bolso da comerciante. “Tem problema todo santo mês. Quando a gente liga pra operadora, botam a culpa nos Correios”, relata.

Problema que, pela análise do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos e Similares do Ceará (Sintect-CE), está relacionado à quantidade de profissionais na ativa no Estado. “O mercado cresceu e o Correios não acompanhou. É como se estivéssemos na década de 1980 ainda. A gente faz tudo com o mínimo de pessoal”, denuncia a coordenadora-geral do Sintect, Maria de Lourdes Félix.


Segundo os Correios, a movimentação de cartas no Ceará chega a 800 mil por dia (24 milhões por mês). A distribuição é feita por 1.200 carteiros, entre efetivos e temporários. Pelos números oficiais, a proporção é de 666,6 encomendas diárias, em média, para cada profissional.


O perfil “Sedex” não entra na contabilidade. “O aumento de trabalho é verídico. O fluxo de objetos cresceu cerca de 30% nos último dois anos e há três não temos concurso público, tendo que amenizar isso com a contratação de mão de obra temporária. Mas, hoje, a situação de acúmulo de objetos está tranquila. Acontece uma ou outra reclamação que a gente tem que averiguar”, contrapõe o gerente de distribuição dos Correios, Wagner Vasconcelos Pinto.


O Sindicato, no entanto, faz um cálculo muito mais alarmante. Diz que cada carteiro leva consigo uma média de 2.000 cartas por dia. Isso representaria até 20 quilos na famosa sacola amarelada. “Antes, um centro de distribuição trabalhava com uma carga de 20 mil objetos. Agora, são 60, 70 mil...”, cita Maria de Lourdes.


Reflexos

De acordo com o Sintect, a situação se desdobraria em outros dois cenários: pressão sobre os carteiros (assédio moral) e filas constantes nos Centros de Distribuição Doméstica (CDDs). Conforme Maria de Lourdes, usuários preferem buscar as encomendas ao invés de esperem pelo serviço dos Correios. Temem atrasos.

Ao visitar o CDD do José Walter ontem à tarde, porém, O POVO não flagrou qualquer fila de espera. “O carteiro anda feito louco. Quando retorna com correspondência não entregue, o chefe pressiona. Aí ele é punido e tem até prejuízo financeiro”, denuncia a sindicalista.


A gerência dos Correios disse desconhecer o movimento de usuários aos CDDs e negou práticas de assédio moral na empresa. “Nos últimos meses, temos evitado evitar a notificação de empregados”, rebateu Vasconcelos.

ENTENDA A NOTÍCIA

É esperar a chegada dos concursados para saber como a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) vai se comportar. Até lá, muitas Marias do Rosário podem ter dor de cabeça com o atraso de correspondências.

SAIBA MAIS


Segundo os Correios, o aumento de 30% no fluxo de produtos nos últimos dois anos deve-se, em parte, às vendas de Internet. Para cada uma, a loja envia, pelo menos, três cartas ao cliente: uma com o boleto, outra informando o status da compra e uma última agradecendo a transação.


O salário de um carteiro hoje é de R$ 807 líquidos, conforme o Sindicato da categoria. “E ninguém trabalha menos de oito horas”, destaca a coordenadora-geral do órgão, Maria de Lourdes Félix.


Em todo o Ceará, os Correios têm 2.500 funcionários - entre carteiros e funções administrativas. Só em Fortaleza, são 900 carteiros.


A recomendação dos Correios aos usuários da ECT é de não irem aos CDDs buscar encomendas ou cartas.


O Sindicato denuncia que nem os pacotes enviados por “Sedex” escapam dos atrasos. Alguns chegam 24 horas depois do previsto.


De acordo com Maria de Lourdes, as cartas registradas (com protocolo para o usuário acompanhar o status da entrega via Internet) são prioridade. Elas custam quase seis vezes mais do que as convencionais. “Cada carteiro devia levar 15 registradas, mas alguns levam até 300 por ordem do chefe”, diz a sindicalista.

Bruno de Castro
brunobrito@opovo.com.br


Fonte: O Povo Online

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